Ele é escritor, professor e roteirista de São Gonçalo. Pai, marido, flamenguista e como costuma dizer, corredor de rua assintomático, é autor dos livros “Macumba”, “Carcará”, “Fogo nas Encruzilhadas”, “Se o medo tivesse um som”, entre outros. É um dos criadores do evento ‘Uma Noite na Taverna’ (com o poeta Romulo Narducci), que fez parte da cena literária de São Gonçalo por mais de 10 anos.

Seu oitavo livro solo, ‘Máquinas Escrotas’, foi publicado pela Editora Patuá. É uma releitura atual do clássico do gótico brasileiro “Noite na Taverna”, de Álvares de Azevedo.

Com vocês, Rodrigo Santos!

Leia a entrevista completa:

MAPAEste é seu oitavo livro publicado. O ‘frio na barriga’ ainda existe ou chega um momento “que acostuma”?

Rodrigo Santos – Não dá nunca para se acostumar. Cada trabalho é diferente, fica aquela ansiedade de como os leitores vão receber, se eu consegui contar bem a história… Mesmo quando eu posto um conto na internet, sinto isso.

MAPAQuanto tempo levou para escrever ‘Máquinas Escrotas’? E como é a sua rotina de escrita? Você planeja toda a estrutura do livro ou escreve de forma livre?

Rodrigo Santos – Escrevi o “Máquinas Escrotas” em um ano, acho. Eu estava escrevendo outras coisas, mas sempre quis fazer essa homenagem a Álvares de Azevedo, que em minha opinião teria sido o nosso maior de todos se não tivesse morrido tão cedo.

Cada história é uma história. No “Máquinas Escrotas”, procurei seguir a estrutura proposta pelo Álvares de Azevedo em seu “Noite na Taverna”, então tinha um “esqueleto”, digamos assim. Mas tem história que às vezes eu só tenho uma cena, ou um diálogo, quando começo a escrever.

MAPAO título, como acontece em outras obras suas, chama atenção por fugir do tradicional. Como foi o processo para chegar a ‘Máquinas Escrotas’, você que decidiu? Teve influência de outra pessoa? E você começa a escrever já com o título escolhido ou ele vem depois?

Rodrigo Santos – Sou péssimo para títulos, mas este veio logo. É a fala de um dos personagens, e acho que resume bem o que eles são, o que nós somos.

MAPAVocê costuma usar São Gonçalo como cenário em alguns livros. Em ‘Máquinas Escrotas’, o leitor também pode ter essa identificação?

Rodrigo Santos – Engraçado que neste eu não cito São Gonçalo, mas é aqui sim. O bar onde os personagens conversam é perto do cemitério São Miguel, acho até que alguns leitores vão pegar algumas referências geográficas.

MAPAAinda sobre leitores, a reação deles aos seus livros influencia ou inspira seu processo criativo ao trabalhar em novos projetos?

Rodrigo Santos – Eu fico sempre muito ansioso para saber o que os leitores acharam, mas não me fio nisso para criar, não. Entendo que o leitor é soberano, pode gostar ou não do que você fez, e está tudo bem. Eu conto as histórias que eu quero contar, que eu gostaria de ler. Torço para que gostem, claro, mas minha maior satisfação é quando eu leio o que escrevo e penso: “Taí, era isso que eu queria falar”.

MAPAEm algumas entrevistas, você deixou claro ser crítico da publicação por editoras prestadoras de serviço, quando o autor precisa pagar para publicar. Como foi, com esse livro, o processo de publicação com a Patuá? Está satisfeito com o trabalho da editora?

Rodrigo Santos – Não sou contra autopublicação não, pelo contrário. Meus dois livros de poesia foram publicados assim. Acredito que cada um tenha que buscar o seu caminho para colocar seu texto no mundo. O que a galera tem que ficar de olho aberto é para não cair em cilada, tem muita patifaria nesse meio.

A Patuá é uma das editoras mais respeitadas do país, mas trabalha de forma diferente das outras, não distribuindo livros para livrarias. É a editora perfeita para esse meu novo livro, que tem uma pegada mais densa e menos de “diversão”, digamos assim. Como falei, acho que o autor tem que entender como a editora funciona, para depois não querer exigir um trabalho que ela não faz. Estou muito feliz de lançar esse trabalho com a Patuá.

MAPAComo você aborda a criação de personagens em seus diferentes livros?

Rodrigo Santos – Quase sempre, o personagem é o que ele faz. Um personagem não é uma vida, é um recorte da vida — até porque, na vida real, as coisas acontecem em um ritmo diferente, moroso e pouco “literário”. O que eu sempre busco é dar mais “cor”, através de detalhes, porque são os detalhes que nos diferenciam, né? Uma voz anasalada, um tique nervoso, um vício de linguagem.

MAPAVocê tem um livro ou um personagem seu favorito?

Rodrigo Santos – Todos. Tem um personagem no “Máquinas Escrotas” que eu adoro, já até o usei em outro texto. Eu gosto tanto de meus personagens que os faço transitar. No “Carcará” mesmo tem um personagem do “Macumba”, em um outro conto tem personagem do “Carcará”, e por aí vai.

MAPAExiste alguma característica ou tema recorrente que permeia suas obras?

Rodrigo Santos – Acho que não. Se eu tivesse que elencar algo, talvez fosse buscar criar uma arte que desconforta, que mexe com o leitor nem que seja um pouquinho.

MAPAVocê é professor, roteirista e na escrita também alterna entre diferentes gêneros. Como você lida com a transição entre esses diferentes gêneros ao escrever? Existe algum desafio específico ao alternar entre romance policial, contos de suspense, terror; e poesia?

Rodrigo Santos – Como falei, cada texto é um texto. Eu defino o que quero com ele, o tipo de impacto, a história que quero contar quando começo. Só muda a modalidade mesmo. No geral, sou apenas um contador de histórias, não importa o formato.

MAPA Em relação à cena literária na região metropolitana, você é um veterano e pioneiro entre projetos voltados à literatura. Como você avalia a cena atual, em prós e contras, em relação a quando você iniciou na escrita, por exemplo?

Rodrigo Santos – Essa aqui eu vou pular, ok? Só essa resposta daria um texto gigante

MAPAUm recado para quem está escrevendo o primeiro livro e ainda se sente perdido com relação a publicação, editoras e venda?

Rodrigo Santos – Escreva. O que te faz ser escritor não é publicar, não é se você escreve conto, poema ou romance ou o número de likes: é o fato de você escrever, contar uma história que é só sua, que só você pode contar, do seu jeito. Todo o mais é secundário, são apenas maneiras que você busca de fazer o seu texto chegar a mais gente. A parte que te cabe nesse processo é escrever, então escreva.


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3 respostas para “Entrevista – Ele é O Bardo de São Gonçalo; autor de ‘Macumba’ lança 8º livro solo”.

  1. Ótima entrevista, o Rodrigo sempre bem coerente em suas respostas.

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  2. […] ➤ Entrevista – Ele é O Bardo de São Gonçalo; autor de ‘Macumba’ lança 8º livro solo […]

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