Em Niterói, quem gosta de literatura já tem compromisso marcado na agenda: os encontros do projeto ‘Literatura na Varanda‘ são garantia de ótimo programa para os apaixonados por livros e debates.

O projeto independente completa oito anos em 2024 e celebra diversas conquistas. Mas quem idealizou o ‘Literatura na Varanda’? Quem está por trás da organização dos encontros e eventos, lidando com todos os desafios de coordenar um projeto independente? Como tudo começou?

Jornalista, poeta e apaixonada por fotografia, ela é autora do livro de poesia ‘Sopro’, lançado em 2017. Com vocês, Tânia Ribeiro Roxo!

Leia a entrevista completa:

MAPANuma entrevista para o portal ArteCult, em 2019, você falou um pouco sobre como teve a ideia do Literatura na Varanda e comentou sobre algumas dificuldades para manter um projeto independente, à época com 3 anos de existência. Passados cinco anos dessa entrevista – e com uma pandemia no meio de tudo – como você avalia hoje o cenário literário e o que melhorou (ou não) em relação a fazer cultura independente?

Tânia – Eu percebo que hoje em dia, com o passar do tempo, e adquirindo mais experiência, quando faço uma proposta para um espaço cultural receber um evento nosso, existe uma outra postura. Um reconhecimento. Algumas pessoas já conhecem o projeto. Em agosto, vamos completar oito anos de caminhada. Isso é muito gratificante. Temos espaços culturais muito bons na cidade. Alguns são pouco utilizados pela turma da literatura. Tanto os espaços públicos como os privados.
Na pandemia nós fizemos lives. Assim a gente manteve em movimento o projeto e alcançamos muitos seguidores de outras cidades do país. Foi uma experiência muito marcante para nós. Conversamos através das transmissões ao vivo, pelo Instagram, com autores e autoras de várias regiões do Brasil. Tem muita gente fazendo arte de forma independente.

MAPAComo surgiu a ideia do nome ‘Literatura na Varanda’?

Tânia – A ideia surgiu num momento de vida em que eu estava buscando me reconectar com a poesia. Inicialmente pensamos na divulgação dos livros que eu e meu companheiro estávamos planejando lançar. Na época, eu me reuni com ele e mais três amigos. Seríamos a princípio um grupo que pensaria junto para organizar tudo. Pensamos em fazer uma espécie de test drive promovendo um primeiro encontro literário para debater um tema específico. O resultado foi tão bom que resolvemos dar continuidade. O nome do projeto foi dado pelo amigo Márwio Câmara. Ele também é escritor e participou das primeiras edições do nosso projeto mediando algumas rodas de conversa.
Eu fui lidando aos poucos com os desafios que apareciam pela frente. Me descobri com o dom de produtora cultural e adorei estar nos bastidores e na organização dos eventos literários. Vamos tentar um edital de cultura para comemorar os oito anos em agosto. Estou muito ansiosa e na torcida para sermos contemplados.

MAPA Você sempre gostou de ler e escrever? Conta um pouco como começou a sua relação com a escrita.

Tânia – Sempre gostei de escrever, mais do que de ler. Lembro que eu ficava fazendo anotações nos meus diários e nas minhas agendas na fase da adolescência. Escrevia bastante. Me sentia muito à vontade e íntima com a linguagem escrita. Era o meu refúgio. Eu sempre fui tímida e reservada. Não adiantava muito tentar ser uma garota popular e nem a mais divertida da turma porque não era do meu temperamento. Eu era muito contemplativa e sensível. E isso propiciou tudo. Escrever é um ato solitário. Comecei a ler mais livros de literatura na época em que cursava o Ensino Médio. Sempre fui muito curiosa. Gostava de imaginar e me perdia nos pensamentos e nos questionamentos.
Quando comecei na poesia, eu datilografava tudo em folhas de papel ofício e armazenava tudo numa pasta. Depois passei a digitar no computador. Imprimia e guardava os poemas. Foram anos e anos assim. Só em 2017, tive um estalo e publiquei “Sopro”, o meu livro de poesia, pela Editora Autografia. A partir daí tudo mudou. Um novo universo se expandiu na minha vida. Conheci muitas pessoas que também escreviam. Passei, assim, a frequentar eventos literários em Niterói e no Rio.

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MAPAComo foi o processo de publicação? Pretende escrever mais livros?

Tânia – Levei muito tempo para reunir os poemas e pensar na publicação. Foi um processo bastante demorado. Mas, no final, muito gratificante. Uma realização. Não planejo de imediato publicar outro livro. Mas tenho novos poemas aqui guardados. Alguns estão publicados em antologias poéticas que participei. Outros estão na trilogia da coletânea “Escreviventes”, que organizei em parceria com a Editora Vira-Tempo (poesias, crônicas e contos).

MAPAQuais expectativas para o cronograma do projeto em 2024? O que já está definido e o que os leitores e escritores podem esperar?

Tânia – Este ano, faremos pelo menos três saraus em Niterói. São encontros com música ao vivo, varal de poemas, microfone aberto e venda de livros e fanzines. Como não temos raízes e somos itinerantes, em março estaremos de volta, trazendo um evento muito especial num espaço aconchegante aqui da nossa cidade. Os saraus são aos sábados à tarde. Quem quiser acompanhar as nossas atividades, é só seguir o projeto no Instagram: @literaturanavaranda.niteroi.rj.
Faremos também cinco rodas de conversa ao longo do ano, abordando as obras dos seguintes autores: Elisa Lucinda, Cora Coralina, Mário Quintana, Adélia Prado e Caio Fernando Abreu. Os encontros serão todos em Niterói e gratuitos. Essas rodas de conversa são de manhã e convidamos professores e professoras para apresentar. É uma verdadeira aula, onde aprendemos muito sobre a trajetória e produção literária de cada escritor homenageado.

MAPA – São oito anos de um projeto que exige muita dedicação, trabalho e networking. Como você avalia a integração (ou a falta de integração) entre diferentes projetos e coletivos independentes em Niterói e cidades vizinhas? Pergunto isso, porque há quem comente e critique as “panelinhas” formadas em alguns grupos literários. Qual é a sua opinião a respeito?

Tânia – Sempre existiu e sempre vai existir. Temos que tentar fazer a nossa parte. Os coletivos são muitos e acho que seria muito importante fazer pontes entre um e outro. Assim como os clubes de leitura. Já fui a vários eventos de colegas. Posso citar alguns aqui: Sarau Tomate Cereja, Diário da Poesia, Sarau Canto Horto do Poeta, Sarau do CLARON, Sarau Um Brinde à Poesia, Sarau das Flores, Sarau Cultural na Maloca, Sarau Ocupação Afropoética, Sarau Poetas em Ação, Sarau Café com verso, entre outros. Também já estive em alguns clube de leitura como: o Leia Mulheres e o clube de leitura da Dilia Gouveia. É um grande mosaico. Cada um com uma proposta diferente. Mas todos com o mesmo objetivo: propagar a literatura.

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MAPAQual a maior loucura que já fez em prol da literatura?

Tânia – Acho que nenhuma. Ainda não. Quem sabe um dia?
Uma vez eu esbarrei com a Marina Colasanti quando eu estava na Bienal do Rio, em 2019. Foi na saída: eu indo embora e ela chegando. Aí eu gritei sem o menor constrangimento: “Maravilhosa!”. Ela sorriu e pegou na minha mão. Eu já estive com ela quando eu tinha 16 anos, num evento na escola onde estudei no Ensino Médio, em 1988. E depois durante a Festa Literária de Nova Friburgo (FLINF). Ela foi muito atenciosa e autografou os livros que levei.

MAPAJá fez algo em relação ao projeto que tenha se arrependido? O quê?

Tânia – Já. Prefiro não comentar. Mas acho válido. A experiência nos ajuda a evitar certos comportamentos. Ficamos mais seletivos e atentos.

MAPAO que é preciso para participar de forma ativa do projeto ‘Literatura na Varanda’?

Tânia – Basta acompanhar as atividades do projeto através do Instagram. Lá estará toda a nossa programação. Sempre estamos divulgando também eventos de outras pessoas.

MAPAComo você avalia a cena literária em Niterói atualmente?

Tânia – A cena literária é muito diversificada. Isso é bom. Mas ainda há desunião. Espero que isso mude um dia. Afinal de contas, todos ganham se nos unirmos.

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4 respostas para “Entrevista – Ela é jornalista-poeta e trouxe a literatura para a varanda; conheça Tânia Ribeiro Roxo”.

  1. Tânia é uma querida, tenho muito orgulho de participar do Projeto Escreviventes e ter minhas obras publicadas. Seguimos juntas e muito sucesso em 2024.

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  2. Tânia é uma pessoa incrível!! Lindo projeto “Literatura na varanda “. Fico muito feliz de ver dando tantos frutos!! Parabéns !! Vida longa ao projeto!!

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  3. Avatar de Fernanda Oliveira
    Fernanda Oliveira

    Parabéns pela sua trajetória, Tânia! Escritores e leitores agradecemos…

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